Em meio aos riscos climáticos que devem se tornar mais frequentes e extremos, países e empresas em todo o mundo sofrerão suas consequências
O clima está em mudança e não há como negar diante de acontecimentos como ondas de calor letais, furacões fora dos trópicos, secas intensas e enchentes. Em meio aos riscos climáticos, que devem se tornar mais frequentes e extremos, países e empresas sofrerão as consequências.
Alguns relatórios recentes mostram que a margem de manobra vem ficando cada dia mais estreita. O mais recente deles, o 6° Relatório do IPCC (Painel sobre Mudança do Clima), divulgado no dia 4, é contundente: para garantir que o aumento da temperatura global fique em 1,5°C neste século – a meta do Acordo de Paris – é preciso que o pico de emissões de gases-estufa aconteça, no máximo, até 2025.
Há pouco mais de um mês, outro relatório do IPCC, do grupo II, já havia alertado que, com extremos climáticos ao mesmo tempo, entre 3,3 bilhões a 3,6 bilhões de pessoas estão vulneráveis a consequências como insegurança alimentar e falta de água, especialmente em regiões menos desenvolvidas, como África, Ásia, América Central e do Sul.
Não apenas as pessoas, mas governos, cidades e empresas serão impactados negativamente.
Leonardo Marques, professor associado na Audencia Business School e professor licenciado do Coppead UFRJ, explica que “Os principais agentes de transformação não estão fazendo o suficiente”, se referindo principalmente aos governos que assinaram um acordo anos atrás para redução das emissões e reforçaram a aliança na Conferência do Clima (COP26), no fim de 2021.
Os países não estão fazendo o que combinaram e outros estão reticentes em se comprometer com as mudanças necessárias. A mesma coisa, as empresas – muitas estão adiando ao máximo o compromisso com redução de pegada de carbono e mudanças associadas ao impacto climático. A ciência está mostrando isso.
Um terceiro estudo, este de um grupo de pesquisadores liderado pelo climatologista britânico Chris Boulton, publicado em março na Nature Climate Change, traz ainda que o ponto de ruptura da Amazônia – o momento em que deixa de ser floresta tropical e passa a ser outro ecossistema (próximo ao Cerrado, mas sua riqueza) está mais perto do que se previa.
Não é difícil entender como a escassez de água pode afetar os negócios, uma vez que ela é necessária para indústria, agropecuária e serviços. Mas uma consequência extra deve vir à tona: o encarecimento de seu custo, fator que também deve ser considerado.
Vale ressaltar o impacto no agronegócio, uma vez que mudanças no clima e no regime de chuvas podem afetar a produtividade no campo e trazer, consequentemente, risco de segurança alimentar para as pessoas.
O próprio relatório do IPCC desta semana explica que é preciso uma redução na emissão de gases-estufa de 43% até 2030 e, em paralelo, um esforço para diminuir as emissões de metano em um terço. Mesmo que façamos isso, é praticamente inevitável que iremos exceder, temporariamente, o limite da temperatura, mas podemos voltar a ele no fim do século.
Pensar em sua marca, o que tem nas próprias instalações é uma coisa, mas o que toda a cadeia dessa companhia está fazendo e sua pegada de carbono, é muito maior. As empresas não estão nem reportando nem controlando essas metas para que esta cadeia como um todo caminhe na direção da redução das emissões. A cadeia de suprimento é o calcanhar de Aquiles da avaliação de sustentabilidade das empresas.
Fonte: Valor