Veículo: Executivos Financeiros
Operação é mais barata, menos complexa e mais vantajosa para o financiamento de longo prazo ou mesmo para a reestruturação de dívidas
O ambiente econômico nacional já começou a sentir o forte impacto da crise que prejudica a operação de vários segmentos empresariais. Tal impacto tem se traduzido, dentre os vários efeitos danosos, na escassez do crédito para todas as empresas, em especial por parte dos provedores clássicos, como os bancos e as factorings. Além de ter sua oferta diminuída em meio a estes segmentos nos últimos meses, o crédito também está experimentando um aumento paulatino nos seus níveis de custos, uma maior seletividade na concessão e a redução nos prazos de financiamento.
Entretanto, nos últimos anos, a demanda de crédito também passou a ser atendida por outro tipo de agente: as instituições não financeiras ou, em outras palavras, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), muitas vezes chamados de “shadow banks”. Tais provedores atendem o mercado por meio da aquisição de títulos de crédito que são emitidos pelas empresas que necessitam tomar recursos, a exemplo dos Debêntures, CRIs (Certificados de Recebível Imobiliário) e CRAs (Cotas de Reserva Ambiental).
“Numa fase como a que estamos passando, com juros altos, bancos não querendo emprestar dinheiro por receio, etc, o shadow bank se viabiliza como uma alternativa à rede bancária, mais barata, menos complexa e vantajosa para o financiamento de longo prazo ou mesmo para a reestruturação de dívidas”, afirma Marcus Vinicius Gonçalves, especialista em Direito Tributário do escritório Bertolucci & Ramos Gonçalves Advogados.
Segundo o advogado, as operações nesta modalidade de oferta de crédito têm aumentado substancialmente, comparando-se com as dos provedores tradicionais. O próprio Bertolucci & Ramos Gonçalves Advogados conduziu a estruturação de dez operações de shadow bank do ano passado para cá e, somente no último mês de julho, a captação dos FIDCs, excluindo os FIDCs Não Padronizados (FIDCs NP), somou R$ 37,7 milhões.
Brasil está atrasado na área
“Os empresários estão se interessando e têm perguntado se isso é possível porque não conhecem o sistema, o que é resultado da nossa economia marcada por preconceitos e fechada à inovação. No Brasil, o shadow bank é ainda bastante incipiente, mas nos EUA, na China, funciona há anos. No mercado europeu, a startup sueca iZette – inicialmente uma fabricante de leitores de cartão para smartphones – reuniu mais de US$ 67 milhões em investimentos e passará a atuar no shadow banking, realizando empréstimos a pequenos negócios. E a tendência é de crescimento deste segmento. Mas nós temos um delay em relação ao mundo”, destaca Gonçalves.
O especialista alerta, no entanto, que esse tipo de operação funciona bem apenas se o mercado estiver funcionando bem: “O risco é de uma quebra sistêmica, que afete a todos, porque a empresa está disponibilizando crédito com um lastro de recursos que é de outros, aí pode ter problema”.
De qualquer forma, o shadow bank é uma alternativa de financiamento para as empresas que estão bem estruturadas e precisam de crédito para operar. E a oferta pode ser bem maior se contemplarmos o ambiente global. Com as taxas de juros em queda nos países desenvolvidos, as taxas oferecidas no Brasil se tornaram extremamente atrativas para os investidores que lá residem.