Entre as alternativas, estão ‘vaquinhas’ e emissões de dívida; preservar o caixa também é a saída, segundo especialistas
Até o ano passado, as startups brasileiras viveram um período de euforia – juntas, elas captaram US$ 9,4 bilhões em 2021, segundo dados da empresa de inovação Distrito. Porém, a escalada de juros e a maior aversão ao risco têm deixado os fundos de venture capital, que investem em empresas iniciantes, receosos em assinar cheques. Isso tem forçado as empresas de tecnologia a recorrer a fontes alternativas de financiamento.
Um desses caminhos é o equity crowdfunding. O modelo funciona como uma “vaquinha virtual” em que investidores, pessoa física ou jurídica, aportam de forma coletiva em startups em fase inicial. No modelo, os participantes recebem uma fração do negócio e são remunerados por seu desempenho ou após sua venda total ou parcial.
Apesar do momento delicado para o mercado tradicional, o crowdfunding está amadurecendo. É uma alternativa ágil que permite mais controle e rapidez na captação.
DÍVIDA.
Outra opção são os instrumentos de dívida – entre eles, está o venture debt, financiamentos baseados em dívidas não conversíveis, ou seja, que não podem ser transformadas em participação na empresa. Nesse caso, as instituições que fornecem o capital entram como credoras, e não sócias.
Não precisar abrir mão de uma parte da empresa foi o que motivou a agtech (startup agrícola) Smartbreeder, de inteligência agronômica digital, a optar pelo modelo.
Com auxílio do Voiter, estão previstos desembolsos de até R$ 150 milhões. Já o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e os Fundos de Investimento Imobiliário (FII) são alternativas atrativas para as proptechs (startups do setor imobiliário). O primeiro é um título que gera direito de crédito lastreado por financiamentos de imóveis e contratos de aluguéis, por exemplo, enquanto o FII é destinado à aplicação em ativos do mercado imobiliário.
A Yuca, especializada em locação de apartamentos, captou R$ 155 milhões no ano passado, sendo R$ 100 milhões de investidores imobiliários e o restante de fundos tradicionais. O dinheiro levantado por venture capital vai direto para a operação da startup, enquanto o do investidor imobiliário é voltado para ampliar a rentabilidade dos imóveis.
Os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCS), que abrangem créditos que uma empresa tem a receber, são outra alternativa. Recentemente, a Plugify captou R$ 120 milhões por meio desse instrumento. Na semana passada, a Neon captou R$ 400 milhões para seu FIDC voltado a cartões de crédito.
Instrumento chamado de ‘venture debt’ é uma forma de captar recursos sem vender fatia do negócio
ORGÂNICO.
Enquanto as fintechs miram os FIDCS, o crowdfunding é a melhor alternativa às empresas em estágio inicial. Já o venture debt é uma solução mais indicada para aquelas que possuem modelos de receita validados. Mas, no fim das contas, a melhor fonte de capital para uma startup é o crescimento orgânico, usar o próprio faturamento para reinvestir no negócio.
Não vai ter crédito para todo mundo, porque o mercado de dívida abraça menos do que o de venture capital. Com a menor oferta de investimentos, os critérios de seleção e as condições fiquem cada vez mais rigorosas. Apesar da maior diversificação, estima-se que os investimentos baseados em participação societária devem continuar a ter mais relevância.
As alternativas dificilmente irão superar as de equity em volume, porque possuem particularidades que não atendem a todos os segmentos e tamanhos de empresas.
Fonte: Estadão